domingo, 18 de maio de 2008

Literatura - O teatro de Gil Vicente (EXERCICIO)

Gil Vicente


AUTO DA BARCA DO INFERNO

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Auto de moralidade composto por Gil Vicente por contemplação da

sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e

representado por seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei

Manuel, primeiro de Portugal deste nome.

Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto,

se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente

a um rio, o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que

naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o

outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na

proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal

e um companheiro.

O primeiro intrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva

um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas.

E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.

DIABO À barca, à barca, houlá!

que temos gentil maré!

- Ora venha o carro a ré!

COMPANHEIRO Feito, feito!

Bem está!

Vai tu muitieramá,

e atesa aquele palanco

e despeja aquele banco,

pera a gente que virá.

À barca, à barca, hu-u!

Asinha, que se quer ir!

Oh, que tempo de partir,

louvores a Berzebu!

- Ora, sus! que fazes tu?

Despeja todo esse leito!

COMPANHEIRO Em boa hora! Feito, feito!

DIABO Abaixa aramá esse cu!

Faze aquela poja lesta

e alija aquela driça.

COMPANHEIRO Oh-oh, caça! Oh-oh, iça, iça!

DIABO Oh, que caravela esta!

Põe bandeiras, que é festa.

Verga alta! Âncora a pique!

- Ó poderoso dom Anrique,

cá vindes vós?... Que cousa é esta?...

Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:

FIDALGO Esta barca onde vai ora,

que assi está apercebida?

DIABO Vai pera a ilha perdida,

e há-de partir logo ess'ora.

FIDALGO Pera lá vai a senhora?

DIABO Senhor, a vosso serviço.

FIDALGO Parece-me isso cortiço...

DIABO Porque a vedes lá de fora.

FIDALGO Porém, a que terra passais?

DIABO Pera o inferno, senhor.

FIDALGO Terra é bem sem-sabor.

DIABO Quê?... E também cá zombais?

FIDALGO E passageiros achais

pera tal habitação?

DIABO Vejo-vos eu em feição

pera ir ao nosso cais...

FIDALGO Parece-te a ti assi!...

DIABO Em que esperas ter guarida?

FIDALGO Que leixo na outra vida

quem reze sempre por mi.

DIABO Quem reze sempre por ti?!..

Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...

E tu viveste a teu prazer,

cuidando cá guarecer

por que rezam lá por ti?!...

Embarca - ou embarcai...

que haveis de ir à derradeira!

Mandai meter a cadeira,

que assi passou vosso pai.

FIDALGO Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!

DIABO Vai ou vem! Embarcai prestes!

Segundo lá escolhestes,

assi cá vos contentai.

Pois que já a morte passastes,

haveis de passar o rio.

FIDALGO Não há aqui outro navio?

DIABO Não, senhor, que este fretastes,

e primeiro que expirastes

me destes logo sinal.

FIDALGO Que sinal foi esse tal?

DIABO Do que vós vos contentastes.

FIDALGO A estoutra barca me vou.

Hou da barca! Para onde is?

Ah, barqueiros! Não me ouvis?

Respondei-me! Houlá! Hou!...

(Pardeus, aviado estou!

Cant'a isto é já pior...)

Oue jericocins, salvanor!

Cuidam cá que são eu grou?

ANJO Que quereis?

FIDALGO Que me digais,

pois parti tão sem aviso,

se a barca do Paraíso

é esta em que navegais.

ANJO Esta é; que demandais?

FIDALGO Que me leixeis embarcar.

Sou fidalgo de solar,

é bem que me recolhais.

ANJO Não se embarca tirania

neste batel divinal.

FIDALGO Não sei porque haveis por mal

que entre a minha senhoria...

ANJO Pera vossa fantesia

mui estreita é esta barca.

FIDALGO Pera senhor de tal marca

nom há aqui mais cortesia?

Venha a prancha e atavio!

Levai-me desta ribeira!

ANJO Não vindes vós de maneira

pera entrar neste navio.

Essoutro vai mais vazio:

a cadeira entrará

e o rabo caberá

e todo vosso senhorio.

Ireis lá mais espaçoso,

vós e vossa senhoria,

cuidando na tirania

do pobre povo queixoso.

E porque, de generoso,

desprezastes os pequenos,

achar-vos-eis tanto menos

quanto mais fostes fumoso.

DIABO À barca, à barca, senhores!

Oh! que maré tão de prata!

Um ventozinho que mata

e valentes remadores!

Diz, cantando:

Vós me veniredes a la mano,

a la mano me veniredes.

FIDALGO Ao Inferno, todavia!

Inferno há i pera mi?

Oh triste! Enquanto vivi

não cuidei que o i havia:

Tive que era fantesia!

Folgava ser adorado,

confiei em meu estado

e não vi que me perdia.

Venha essa prancha! Veremos

esta barca de tristura.

DIABO Embarque vossa doçura,

que cá nos entenderemos...

Tomarês um par de remos,

veremos como remais,

e, chegando ao nosso cais,

todos bem vos serviremos.

FIDALGO Esperar-me-ês vós aqui,

tornarei à outra vida

ver minha dama querida

que se quer matar por mi.

Dia, Que se quer matar por ti?!...

FIDALGO Isto bem certo o sei eu.

DIABO Ó namorado sandeu,

o maior que nunca vi!...

FIDALGO Como pod'rá isso ser,

que m'escrevia mil dias?

DIABO Quantas mentiras que lias,

e tu... morto de prazer!...

FIDALGO Pera que é escarnecer,

quem nom havia mais no bem?

DIABO Assi vivas tu, amém,

como te tinha querer!

FIDALGO Isto quanto ao que eu conheço...

DIABO Pois estando tu expirando,

se estava ela requebrando

com outro de menos preço.

FIDALGO Dá-me licença, te peço,

que vá ver minha mulher.

DIABO E ela, por não te ver,

despenhar-se-á dum cabeço!

Quanto ela hoje rezou,

antre seus gritos e gritas,

foi dar graças infinitas

a quem a desassombrou.

FIDALGO Cant'a ela, bem chorou!

DIABO Nom há i choro de alegria?..

FIDALGO E as lástimas que dezia?

DIABO Sua mãe lhas ensinou...

Entrai, meu senhor, entrai:

Ei la prancha! Ponde o pé...

FIDALGO Entremos, pois que assi é.

DIABO Ora, senhor, descansai,

passeai e suspirai.

Em tanto virá mais gente.

FIDALGO Ó barca, como és ardente!

Maldito quem em ti vai!

Diz o Diabo ao Moço da cadeira:

DIABO Nom entras cá! Vai-te d'i!

A cadeira é cá sobeja;

cousa que esteve na igreja

nom se há-de embarcar aqui.

Cá lha darão de marfi,

marchetada de dolores,

com tais modos de lavores,

que estará fora de si...

À barca, à barca, boa gente,

que queremos dar à vela!

Chegar ela! Chegar ela!

Muitos e de boamente!

Oh! que barca tão valente!

Vem um Onzeneiro, e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:

ONZENEIRO Pera onde caminhais?

DIABO Oh! que má-hora venhais,

onzeneiro, meu parente!

Como tardastes vós tanto?

ONZENEIRO Mais quisera eu lá tardar...

Na safra do apanhar

me deu Saturno quebranto.

DIABO Ora mui muito m'espanto

nom vos livrar o dinheiro!...

ONZENEIRO Solamente para o barqueiro

nom me leixaram nem tanto...

DIABO Ora entrai, entrai aqui!

ONZENEIRO Não hei eu i d'embarcar!

DIABO Oh! que gentil recear,

e que cousas pera mi!...

ONZENEIRO Ainda agora faleci,

leixa-me buscar batel!

DIABO Pesar de Jam Pimentel!

Porque não irás aqui?...

ONZENEIRO E pera onde é a viagem?

DIABO Pera onde tu hás-de ir.

ONZENEIRO Havemos logo de partir?

DIABO Não cures de mais linguagem.

ONZENEIRO Mas pera onde é a passagem?

DIABO Pera a infernal comarca.

ONZENEIRO Dix! Nom vou eu tal barca.

Estoutra tem avantagem.

Vai-se à barca do Anjo, e diz:

Hou da barca! Houlá! Hou!

Haveis logo de partir?

ANJO E onde queres tu ir?

ONZENEIRO Eu pera o Paraíso vou.

ANJO Pois cant'eu mui fora estou

de te levar para lá.

Essoutra te levará;

vai pera quem te enganou!

ONZENEIRO Porquê?

ANJO Porque esse bolsão

tomará todo o navio.

ONZENEIRO Juro a Deus que vai vazio!

ANJO Não já no teu coração.

ONZENEIRO Lá me fica, de rondão,

minha fazenda e alhea.

ANJO Ó onzena, como és fea

e filha de maldição!

Torna o Onzeneiro à barca do Inferno e diz:

ONZENEIRO Houlá! Hou! Demo barqueiro!

Sabês vós no que me fundo?

Quero lá tornar ao mundo

e trazer o meu dinheiro.

que aqueloutro marinheiro,

porque me vê vir sem nada,

dá-me tanta borregada

como arrais lá do Barreiro.

DIABO Entra, entra, e remarás!

Nom percamos mais maré!

ONZENEIRO Todavia...

DIABO Per força é!

Que te pês, cá entrarás!

Irás servir Satanás,

pois que sempre te ajudou.

ONZENEIRO Oh! Triste, quem me cegou?

DIABO Cal'te, que cá chorarás.

Entrando o Onzeneiro no batel, onde achou o Fidalgo embarcado,

diz tirando o barrete:

ONZENEIRO Santa Joana de Valdês!

Cá é vossa senhoria?

FIDALGO Dá ò demo a cortesia!

DIABO Ouvis? Falai vós cortês!

Vós, fidalgo, cuidareis

que estais na vossa pousada?

Dar-vos-ei tanta pancada

com um remo que renegueis!

Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:

PARVO Hou daquesta!

DIABO Quem é?

PARVO Eu soo.

É esta a naviarra nossa?

DIABO De quem?

PARVO Dos tolos.

DIABO Vossa.

Entra!

PARVO De pulo ou de voo?

Hou! Pesar de meu avô!

Soma, vim adoecer

e fui má-hora morrer,

e nela, pera mi só.

DIABO De que morreste?

PARVO De quê?

Samicas de caganeira.

DIABO De quê?

PARVO De caga merdeira!

Má rabugem que te dê!

DIABO Entra! Põe aqui o pé!

PARVO Houlá! Nom tombe o zambuco!

DIABO Entra, tolaço eunuco,

que se nos vai a maré!

PARVO Aguardai, aguardai, houlá!

E onde havemos nós d'ir ter?

DIABO Ao porto de Lucifer.

PARVO Ha-á-a...

DIABO Ó Inferno! Entra cá!

PARVO Ò Inferno?... Eramá...

Hiu! Hiu! Barca do cornudo.

Pêro Vinagre, beiçudo,

rachador d'Alverca, huhá!

Sapateiro da Candosa!

Antrecosto de carrapato!

Hiu! Hiu! Caga no sapato,

filho da grande aleivosa!

Tua mulher é tinhosa

e há-de parir um sapo

chantado no guardanapo!

Neto de cagarrinhosa!

Furta cebolas! Hiu! Hiu!

Excomungado nas erguejas!

Burrela, cornudo sejas!

Toma o pão que te caiu!

A mulher que te fugiu

per'a Ilha da Madeira!

Cornudo atá mangueira,

toma o pão que te caiu!

Hiu! Hiu! Lanço-te üa pulha!

Dê-dê! Pica nàquela!

Hump! Hump! Caga na vela!

Hio, cabeça de grulha!

Perna de cigarra velha,

caganita de coelha,

pelourinho da Pampulha!

Mija n'agulha, mija n'agulha!

Chega o Parvo ao batel do Anjo e dlz:

PARVO Hou da barca!

ANJO Que me queres?

PARVO Queres-me passar além?

ANJO Quem és tu?

PARVO Samica alguém.

ANJO Tu passarás, se quiseres;

porque em todos teus fazeres

per malícia nom erraste.

Tua simpreza t'abaste

pera gozar dos prazeres.

Espera entanto per i:

veremos se vem alguém,

merecedor de tal bem,

que deva de entrar aqui.

QUESTÕES

1) No Auto da barca do inferno, Gil Vicente critica três classes sociais: a nobreza, o clero e o povo. Identifique a personagem que, no texto, representa:

a) o clero

b) o povo

2) O diabo, ao receber o frade, estranha a pessoa que está na companhia dele.

Deduza: Qual é a causa desse estranhamento

3) O diálogo que ocorre entre as duas personagens rela não apenas a condição moral do frade, mas também a de outros membros da igreja. Qual é essa condição?

Literatura - O teatro de Gil Vicente

Gil Vicente

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

Gil Vicente (1465 — 1536) é geralmente considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de Belém, mestre da balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, actor e encenador. É frequentemente considerado, de uma forma geral, o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico já que também escreveu em castelhano - partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina.

A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Foi, o principal representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos populares na sua escrita que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.

Estilo de Vida

[editar] Local e data de nascimento

Guimarães: um dos locais que reclama ser o berço do dramaturgo

Guimarães: um dos locais que reclama ser o berço do dramaturgo

Apesar de se considerar que a data mais provável para o seu nascimento tenha sido em 1466 — hipótese defendida, entre outros, por Queirós Veloso — há ainda quem proponha as datas de 1460 (Braamcamp Freire) ou entre 1470 e 1475 (Brito Rebelo). Se nos basearmos nas informações veiculadas na própria obra do autor, encontraremos contradições. O Velho da Horta, a Floresta de Enganos ou o Auto da Festa, indicam 1452, 1470 e antes de 1467, respectivamente. Desde 1965, quando decorreram festividades oficiais comemorativas do quincentenário do nascimento do dramaturgo, que se aceita 1465 de forma quase unânime.

Frei Pedro de Poiares localizava o seu nascimento em Barcelos, mas as hipóteses de assim ter sido são poucas. Pires de Lima propôs Guimarães para sua terra natal - hipótese essa que estaria de acordo com a identificação do dramaturgo com o ourives, já que a cidade de Guimarães foi durante muito tempo berço privilegiado de joalheiros. O povo de Guimarães orgulha-se desta hipótese, como se pode verificar, por exemplo, na designação dada a uma das escolas do Concelho (em Urgeses), que homenageia o autor.

Lisboa é também muitas vezes defendida como o local certo. Outros, porém, indicam as Beiras para local de nascimento - de facto, verificam-se várias referências a esta área geográfica de Portugal, seja na toponímia como pela forma de falar das personagens. José Alberto Lopes da Silva[1] assinala que não há na obra vicentina referências a Barcelos nem a Guimarães, mas sim dezenas de elementos relacionados com as Beiras. Há obras inteiras, personagens, caracteres, linguagem. O conhecimento que o autor mostra desta região do país não era fácil de obter se tivesse nascido no norte e vivido a maior parte da sua vida em Évora e Lisboa.

[editar] Poeta-ourives?

Lisboa: Mosteiro dos Jerónimos.

Lisboa: Mosteiro dos Jerónimos.

Cada livro publicado sobre Gil Vicente é, quase sempre defensor de uma qualquer tese que identifique ou não o autor ao ourives. A favor desta hipótese existe o facto de o dramaturgo usar com propriedade termos técnicos de ourivesaria na sua obra.

Alguns intelectuais portugueses polemizaram sobre o assunto. Camilo Castelo Branco escreveu, em 1881, o documento "Gil Vicente, Embargos à fantasia do Sr. Teófilo Braga" - este último defendia uma só pessoa para o ourives e para o poeta, enquanto que Camilo defendia duas pessoas distintas. Teófilo Braga mudaria de opinião depois de um estudo de Sanches de Baena que mostrava a genealogia distinta de dois indivíduos de nome Gil Vicente, apesar de Brito Rebelo ter conseguido comprovar a inconsistência histórica destas duas genealogias, utilizando documentos da Torre do Tombo. Lopes da Silva, na obra citada[1], avança uma dezena de argumentos para provar que Gil Vicente era ourives quando escreveu a sua primeira obra, uma imitação do Auto del Repelón, de Juan del Encina a quem pede emprestada não só a história, mas também as personagens com o seu respectivo idioma, o saiaguês.

[editar] Dados biográficos

Apesar de se considerar que a data mais provável para o seu nascimento tenha sido em 1466, Sabe-se que casou com Branca Bezerra, de quem nasceram Gaspar Vicente(que morreu em 1519) e Belchior Vicente(nascido em 1505). Depois de enviuvar, casou com Melícia Rodrigues de quem teve Paula Vicente (1519-1576), Luís Vicente (que organizou a compilação das suas obras) e Valéria Borges. Presume-se que tenha estudado em Salamanca.

O Monólogo do vaqueiro, como teria sido representado pelo próprio Gil Vicente, de acordo com a visão do pintor Roque Gameiro.

O Monólogo do vaqueiro, como teria sido representado pelo próprio Gil Vicente, de acordo com a visão do pintor Roque Gameiro.

O seu primeiro trabalho conhecido, a peça em sayaguês Auto da Visitação, também conhecido como Monólogo do Vaqueiro, foi representada nos aposentos da rainha D. Maria, consorte de Dom Manuel, para celebrar o nascimento do príncipe (o futuro D. João III) - sendo esta representação considerada como o marco de partida da história do teatro português. Ocorreu isto na noite de 8 de Junho de 1502, com a presença, além do rei e da rainha, de Dona Leonor, viúva de D. João II e D. Beatriz, mãe do rei.

Tornou-se, então, responsável pela organização dos eventos palacianos. Dona Leonor pediu ao dramaturgo a repetição da peça pelas matinas de Natal, mas o autor, considerando que a ocasião pedia outro tratamento, escreveu o Auto Pastoril Castelhano. De facto, o Auto da Visitação tem elementos claramente inspirados na "adoração dos pastores", de acordo com os relatos do nascimento de Cristo. A encenação incluía um ofertório de prendas simples e rústicas, como queijos, ao futuro rei, ao qual se pressagiavam grandes feitos. Gil Vicente que, além de ter escrito a peça, também a encenou e representou, usou, contudo, o quadro religioso natalício numa perspectiva profana. Perante o interesse de Dona Leonor, que se tornou a sua grande protectora nos anos seguintes, Gil Vicente teve a noção de que o seu talento permitir-lhe-ia mais do que adaptar simplesmente a peça para ocasiões diversas, ainda que semelhantes.

Se foi realmente ourives, terminou a sua obra-prima nesta arte - a Custódia de Belém - feita para o Mosteiro dos Jerónimos, em 1506, produzida com o primeiro ouro vindo de Moçambique. Três anos depois, este mesmo ourives tornou-se vedor do património de ourivesaria no Convento de Cristo, em Tomar, Nossa Senhora de Belém e no Hospital de Todos-os-Santos, em Lisboa.

Consegue-se ainda apurar algumas datas em relação a esta personagem que tanto pode ser una como múltipla: em 1511 é nomeado vassalo de el-Rei e, um ano depois, sabe-se que era representante da bandeira dos ourives na "Casa dos Vinte e Quatro". Em 1513, o mestre da balança da Casa da Moeda, também de nome de Gil Vicente (se é o mesmo ou não, como já se disse, não se sabe), foi eleito pelos outros mestres para os representar junto à vereação de Lisboa.

Será ele que dirigirá os festejos em honra de Dona Leonor, a terceira mulher de Dom Manuel, no ano de 1520, um ano antes de passar a servir Dom João III, conseguindo o prestígio do qual se valeria para se permitir a satirizar o clero e a nobreza nas suas obras ou mesmo para se dirigir ao monarca criticando as suas opções. Foi o que fez em 1531, através de uma carta ao rei onde defende os cristãos-novos.

Morreu em lugar desconhecido, talvez em 1536 porque é a partir desta data que se deixa de encontrar qualquer referência ao seu nome nos documentos da época, além de ter deixado de escrever a partir desta data.

[editar] Contexto histórico

Obras de Garcia de Resende, onde se inclui a Miscelânia onde se defende para Gil Vicente a paternidade do teatro português.

Obras de Garcia de Resende, onde se inclui a Miscelânia onde se defende para Gil Vicente a paternidade do teatro português.

[editar] O Teatro português antes de Gil Vicente

O teatro português não nasceu com Gil Vicente. Esse mito, criado por vários autores de renome, como Garcia de Resende, na sua Miscelânia, ou o seu próprio filho, Luís Vicente, por ocasião da primeira edição da "Compilação" do obra completa do pai, poderá justificar-se pela importância inegável do autor no contexto literário pensinsular, mas não é de todo verdadeiro já que existiam manifestações teatrais antes da noite de 7 para 8 de Junho de 1502, data da primeira representação do "Auto do vaqueiro" ou "Auto da visitação", nos aposentos da rainha.

Já no reinado de Sancho I, os dois actores mais antigos portugueses, Bonamis e Acompaniado, realizaram um espectáculo de "arremedilho"[1], tendo sido pagos pelo rei com uma doação de terras. O arcebispo de Braga, Dom Frei Telo, refere-se, num documento de 1281, a representações litúrgicas por ocasião das principais festividades católicas. Em 1451, o casamento da infanta Dona Leonor com o imperador Frederico III da Alemanha foi acompanhado também de representações teatrais.

Segundo as crónicas portuguesas de Fernão Lopes, Zurara, Rui de Pina ou Garcia de Resende, também nas cortes de D. João I, D. Afonso V e D.João II, se faziam encenações espectaculares. Rui de Pina refere-se, por exemplo, a um "momo", em que Dom João II participou pessoalmente, fazendo o papel de "Cavaleiro do Cisne", num cenário de ondas agitadas (formadas com panos), numa frota de naus que causou espanto entrando sala adentro acompanhado do som de trombetas, atabales, artilharia e música executada por menestréis, além de uma tripulação atarefada de actores vestidos de forma espectacular.

Contudo, pouco resta dos textos dramáticos pré-vicentinos. Além das éclogas dialogadas de Bernardim Ribeiro, Cristóvão Falcão e Sá de Miranda, André Dias publicou em 1435 um "Pranto de Santa Maria" considerado um esboço razoável de um drama litúrgico.

No Cancioneiro Geral de Garcia de Resende existem alguns textos também significativos, como o Entremez do Anjo (assim designado por Teófilo Braga), de D. Francisco de Portugal, Conde de Vimioso, ou as trovas de Anrique da Mota (ou Farsa do alfaiate, segundo Leite de Vasconcelos) dedicados a temas e peronagens chocarreiros como "um clérigo sobre uma pipa de vinho que se lhe foi pelo chão", entre outros episódios divertidos.

É provável que Gil Vicente tenha assistido algumas destas representações. Viria, contudo, sem qualquer dúvida, a superá-las em mestria e em profundidade, tal como diria Marcelino Menéndez Pelayo ao considerá-lo a "figura mais importante dos primitivos dramaturgos peninsulares", chegando mesmo a dizer que não havia "quem o excedesse na europa do seu tempo".

[editar] Obra

[editar] Características principais

A sua obra vem no seguimento do teatro ibérico popular e religioso que já se fazia, ainda que de forma menos profunda. Os temas pastoris, presentes na escrita de Juan del Encina vão influenciar fortemente a sua primeira fase de produção teatral e permanecerão esporadicamente na sua obra posterior, de maior diversidade temática e sofistificação de meios. De facto, a sua obra tem uma vasta diversidade de formas: o auto pastoril, a alegoria religiosa, narrativas bíblicas, farsas episódicas e autos narrativos.

Ilustração da edição original do Auto da Barca do Inferno

Ilustração da edição original do Auto da Barca do Inferno

O seu filho, Luís Vicente, na primeira compilação de todas as suas obras, classificou-as em autos e mistérios (de carácter sagrado e devocional) e em farsas, comédias e tragicomédias (de carácter profano). Contudo, qualquer classificação é redutora - de facto, basta pensar na Trilogia das Barcas para se verificar como elementos da farsa (as personagens que vão aparecendo, há pouco saídas deste mundo) se misturam com elementos alegóricos religiosos e místicos (o Bem e o Mal).

Gil Vicente retratou, com refinada comicidade, a sociedade portuguesa do século XVI, demonstrando uma capacidade acutilante de observação ao traçar o perfil psicológico das personagens. Crítico severo dos costumes, de acordo com a máxima que seria ditada por Molière ("Ridendo castigat mores" - rindo se castigam os costumes), Gil Vicente é também um dos mais importantes autores satíricos da língua portuguesa. Em 44 peças, usa grande quantidade de personagens extraídos do espectro social português da altura. É comum a presença de marinheiros, ciganos, camponeses, fadas e demônios e de referências – sempre com um lirismo nato – a dialetos e linguagens populares.

Entre suas obras estão Auto Pastoril Castelhano (1502) e Auto dos Reis Magos (1503), escritas para celebração natalina, e Auto da Sibila Cassandra (1503), anunciando os ideais renascentistas em Portugal. Sua obra-prima é a trilogia de sátiras Auto da Barca do Inferno (1516), Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto da Barca da Glória (1519). Em 1523 escreve a Farsa de Inês Pereira.

Auto de Mofina Mendes, onde se inclui uma anunciação, de acordo com os temas marianos, gratos ao autor

Auto de Mofina Mendes, onde se inclui uma anunciação, de acordo com os temas marianos, gratos ao autor

São geralmente apontados, como aspectos positivos das suas peças, a imaginação e originalidade evidenciadas; o sentido dramático e o conhecimento dos aspectos relacionados com a problemática do teatro.

Alguns autores consideram que a sua espontaneidade, ainda que reflectindo de forma eficaz os sentimentos colectivos e exprimindo a realidade criticável da sociedade a que pertencia, perde em reflexão e em requinte. De facto, a sua forma de exprimir é simples, chã e directa, sem grandes floreados poéticos.

Acima de tudo, o autor exprime-se de forma inspirada, dionisíaca, nem sempre obedecendo a princípios estéticos e artísticos de equilíbrio. É também versátil nas suas manifestações: se, por um lado, parece ser uma alma rebelde, temerária, impiedosa no que toca em demonstrar os vícios dos outros, quase da mesma forma que se esperaria de um inconsciente e tolo bobo da corte, por outro lado, mostra-se dócil, humano e ternurento na sua poesia de cariz religioso e quando se trata de defender aqueles a quem a sociedade maltrata.

O seu lirismo religioso, de raiz medieval e que demonstra influências das Cantigas de Santa Maria está bem presente, por exemplo, no Auto de Mofina Mendes, na cena da Anunciação, ou numa oração dita por Santo Agostinho no Auto da Alma. Por essa razão é, por vezes, designado por "poeta da Virgem".

O seu lirismo patriótico presente em "Exortação da Guerra", Auto da fama ou Cortes de Júpiter, não se limita a glorificar, em estilo épico e orgulhoso, a nacionalidade: de facto, é crítico e eticamente preocupado, principalmente no que diz respeito aos vícios nascidos da nova realidade económica, decorrente do comércio com o Oriente (Auto da Índia). O lirismo amoroso, por outro lado, consegue aliar algum erotismo e alguma brejeirice com influências mais eruditas (Petrarca, por exemplo).

[editar] Elementos filosóficos na obra vicentina

Os temas natalícios, muito presentes na obra de Gil Vicente desde a primeira encomenda de Dona Leonor, têm também um significado fortemente simbólico e sugestivo. Aqui, uma pintura do contemporâneo Vicente Gil (não confundir com o Dramaturgo!)

Os temas natalícios, muito presentes na obra de Gil Vicente desde a primeira encomenda de Dona Leonor, têm também um significado fortemente simbólico e sugestivo. Aqui, uma pintura do contemporâneo Vicente Gil (não confundir com o Dramaturgo!)

A obra de Gil Vicente transmite uma visão do mundo que se assemelha e se posiciona como uma perspectiva pessoal do Platonismo: existem dois mundos - o Mundo Primeiro, da serenidade e do amor divino, que leva à paz interior, ao sossego e a uma "resplandecente glória", como dá conta sua carta a D. João III; e o Mundo Segundo, aquele que retrata nas suas farsas: um mundo "todo ele falso", cheio de "canseiras", de desordem sem remédio, "sem firmeza certa". Estes dois mundos reflectem-se em temas diversos da sua obra: por um lado, o mundo dos defeitos humanos e das caricaturas, servidos sem grande preocupação de verosimilhança ou de rigor histórico.

Muitos autores criticam em Gil Vicente os anacronismos e as falhas na narrativa (aquilo a que chamaríamos hoje de "gaffes"), mas, para alguém que considerava o mundo retratado como pleno de falsidades, essas seriam apenas mais algumas, sem importância e sem dano para a mensagem que se pretendia transmitir. Por outro lado, o autor valoriza os elementos míticos e simbólicos religiosos do Natal: a figura da Virgem Mãe, do Deus Menino, da noite natalícia, demonstrando aí um zelo lírico e uma vontade de harmonia e de pureza artística que não existe nas suas mais conhecidas obras de crítica social.

Sem as características do maniqueísmo que tantas vezes se constatam nas peças teatrais de quem defende uma tal visão do Mundo, há, realmente, a presença de um forte contraste nos elementos cénicos usados por Gil Vicente: a luz contra a sombra, não numa luta feroz, mas em convivência quase amigável. A noite de natal torna-se também aqui a imagem perfeita que resume a concepção cósmica de Gil Vicente: as grandes trevas emolduram a glória divina da maternidade, do nascimento, do perdão, da serenidade e da boa vontade - mas sem a escuridão, que seria da claridade?

[editar] Legado

Note-se que a obra de Gil Vicente não se resume ao teatro, estendendo-se também à poesia. Podemos citar vários vilancetes e cantigas, ainda influenciadas pelo estilo palaciano e temas dos trovadores.

Vários compositores trabalharam poemas de Gil Vicente na forma de lied (principalmente algumas traduções para o alemão, feitas por Emanuel von Geibel), como Max Bruch ou Robert Schumann, o que demonstra o carácter universal da sua obra.

Os seus filhos, Paula e Luís Vicente, foram os responsáveis pela primeira edição das suas obras completas. Em 1586, sai à estampa uma segunda edição, com muitas passagens censuradas pela Inquisição. Só no século XIX se faria a redescoberta do autor, com a terceira edição de 1834, em Hamburgo, levada a cabo por Barreto Feio.

[editar] Obras

* Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação (1502)

* Auto Pastoril Castelhano (1502)

* Auto dos Reis Magos (1503)

* Auto de São Martinho (1504)

* Quem Tem Farelos? (1505)

* Auto da Alma (1508)

* Auto da Índia (1509)

* Auto da Fé (1510)

* O Velho da Horta (1512)

* Exortação da Guerra (1513)

* Comédia do Viúvo (1514)

* Auto da Fama (1516)

* Auto da Barca do Inferno (1517)

* Auto da Barca do Purgatório(1518)

* Auto da Barca da Glória (1519)

* Cortes de Júpiter (1521)

* Comédia de Rubena (1521)

* Farsa de Inês Pereira (1523)

* Auto Pastoril Português (1523)

* Frágua de Amor (1524)

* Farsa do Juiz da Beira (1525)

* Farsa do Templo de Apolo (1526)

* Auto da Nau de Amores (1527)

* Auto da História de Deus (1527)

* Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela (1527)

* Farsa dos Almocreves (1527)

* Auto da Feira (1528)

* Farsa do Clérigo da Beira (1529)

* Auto do Triunfo do Inverno (1529)

* Auto da Lusitânia, intercalado com o entremez Todo-o-Mundo e Ninguém (1532)

* Auto de Amadis de Gaula (1533)

* Romagem dos Agravados (1533)

* Auto da Cananea (1534)

* Auto de Mofina Mendes (1534)

* Floresta de Enganos (1536)

Exercício classicismo renascentista

Texto 1

“Então, tu és Virgílio, aquela fonte

que expande de eloquência num largo rio?”

-- perguntei-lhe, baixando humilde a fonte.

Dos outros poetas honra e desafio

valham-me o longo esforço e o furido amor

que ao teu poema votei anos a fio.

Na verdade es meu mestre meu autor,

ao teu exemplo devo, deslumbrado,

o belo estilo que e meu só valor.

Dante

Texto II

Não tenho paz nem posso fazer guerra;

temo e espero, e do ardor ao gelo passo,

e voo para o céu, e desço à terra,

e nada aperto, e todo o mundo abraço.

Prisão que nem se fecha ou se descerra,

nem me retém nem solta o duro laço;

entre livre e submissa esta alma erra,

nem é morto nem vivo o corpo lasso.

Vejo sem olhos, grito sem ter voz;

e sonho perecer e ajuda imploro;

a mim odeio e a outrem amo após.

Sustento-me de dor e rindo choro;

a morte como a vida enfim deploro:

e neste estado sou, Dama, por vós.

Francesco Petrarca (n. em Arezzo 19 Jul 1374, m. em Pádua 20 Jul 1304)

Texto III

Tanto de meu estado me acho incerto

Tanto de meu estado me acho incerto,

Que em vivo ardor tremendo estou de frio;

Sem causa, juntamente choro e rio;

O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;

Da alma um fogo me sai, da vista um rio;

Agora espero, agora desconfio,

Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;

Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito

Que em mil anos não posso achar u~a hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,

Respondo que não sei; porém suspeito

Que só porque vos vi, minha Senhora.

Luís de Camões

Texto IV

Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada,

Por virtude do muito imaginar;

Não tenho logo mais que desejar,

Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,

Que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si sómente pode descansar,

Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,

Que, como o acidente em seu sujeito,

Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;

[E] o vivo e puro amor de que sou feito,

Como matéria simples busca a forma.

Luís de Camões

No texto 1, Dante está no inferno e encontra Virgílio, poeta que viveu na Roma antiga, entre 71 e 19 a.C. e escreveu a epopéia Eneida.

a) O que Virgílio representa para Dante?

b) Identifique no texto a expressão que demonstra a preocupação de Dante em imitar os clássicos?

Os humanistas italianos, dentre os quais Dante e Petrarca, criaram a medida nova, uma métrica diferença da usada na Idade Média. Criaram também o soneto, um tipo de composição poética que vem sendo cultivada até os dias de hoje.

a) Faça a escanção do primeiro verso de cada um dos textos. Qual é a métrica da medida nova?

b) Os textos 1 e 2 são típicos sonetos italianos. Como são organizados os 14 versos do soneto?

Cerca de 50 anos separam o soneto de Petrarca do soneto de Camões. Assim como Dante imitou o poeta latino Virgílio, Camões imitou Dante e Petrarca. Assim, entre os poemas de Camões e Petrarca, notam-se várias semelhanças.

a) Identifique no poema de Camões os versos que tem correspondência com o poema de Petrarca

“temo e espero e do ardor ao gelo passo”

“E vôo para o céu e desço para a terra”

“e nada aperto e todo o mundo abraço”

b) Às vezes quando um poeta imita outro, como meio de exercitar-se tecnicamente, pode acontecer de o novo poeta ser melhor do que aquele que

Lhe sérvio de inspiração. Compare os dois sonetos. De qual você gostou mais, porquê?

Os quatro versos transcritos na questão anterior, bem como outros versos do poema, são construídos a partir de oposiç ao de idéias. Essas oposições sustentam as idéias do poema, nos quais se manifestam os sentimentos do eu lírico pela mulher amada.

a) Qual é a figura de linguagem que traduz essa oposição?

b) Reconheça em cada um dos poemas outros dois empregos dessa figura de linguagem

c) O que o emprego reiterado dessa figura expressa quanto ao sentimento do eu lírico quanto pela mulher amada?

d) Deduza: o eu lírico é correspondido amorosamente?