quarta-feira, 9 de julho de 2008

Literatura - Arcadismo - Cláudio Manuel da Costa

Cláudio Manuel da Costa (Vargem do Itacolomi, hoje Mariana, 5 de junho de 1729Vila Rica, 4 de julho de 1789) foi um jurista e poeta luso-brasileiro da época colonial [1].

Filho de João Gonçalves da Costa, português, e Teresa Ribeira de Alvarenga, mineira, nasceu no sítio da Vargem do Itacolomi, freguesia da vila do Ribeirão do Carmo, atual cidade de Mariana em Minas Gerais.

Tornou-se conhecido principalmente pela sua obra poética e pelo seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Contudo, foi também advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e mecenas do Aleijadinho. Estudou cânones em Coimbra e há quem acredite que ele tenha traduzido a obra de Adam Smith para o português, mas isso nunca foi muito bem fundamentado.


Vida

Com vinte anos embarcou para Portugal, com destino a Coimbra, em cuja Universidade se formou em cânones. Entre 1753 e 54 recolheu ao Brasil, dando-se à advocacia em Vila Rica (hoje Ouro Preto), jurista culto e renomado da época, ali exerceu o cargo de procurador da Coroa, desembargador, também exerceu por duas vezes o importante cargo de secretário do Governo. Por incumbência da Câmara de Ouro Preto elaborou "carta topográfica de Vila Rica e seu têrmo" em 1758.


Por sua idade, boa lição clássica, fama de douto e crédito de autor publicado, exerceu Cláudio da Costa ali uma espécie de magistério entre os seus confrades em musa, maiores e menores, que todos lhe liam as suas obras e lhe escutavam os conselhos, era uma das figuras principais da Capitania.

Aos sessenta anos foi comprometido na chamada Conjuração Mineira. Preso e, para alguns, apavorado com as conseqüências da tremenda acusação de réu de inconfidência, morreu em circunstâncias obscuras, em Vila Rica, no dia 4 de julho de 1789, quando teria se suicidado na prisão.

Os registros da trajetória da vida de Cláudio revelam uma bem sucedida carreira no campo político, literário e profissional. Foi secretário de vários governadores, poeta admirado até em Portugal e advogado dos principais negociantes da capitania no seu tempo. Acumulou ampla fortuna e sua casa em Vila Rica, era uma das melhores vivendas da capital. Sólida e suntuosa construção que ainda lá está a desafiar o tempo.

A memória de Cláudio Manuel da Costa, porém, não teve a mesma sorte. Até hoje paira sobre ele a suspeita de ter sido um miserável covarde que traiu os amigos e se suicidou na prisão. Outros negam até a própria relevância da sua participação na inconfidência mineira, pintando-o como um simples expectador privilegiado, amigo de Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, freqüentadores assíduos dos saraus que ele promovia.

Cláudio tentou, ele próprio, diminuir a relevância da sua participação na conspiração, mas estava apenas tentando reduzir o peso da sua culpa diante dos juizes da devassa. Os clássicos da historiografia da inconfidência mineira são unânimes em valorizar sua participação no movimento. Parece que ele era meio descrente com as chances militares da conspiração. Mas não deixou de influenciar no lado mais intelectualizado do movimento, especialmente no que diz respeito à construção do edifico jurídico projetado para a república que pretendiam implantar em Minas Gerais, no final do século XVIII.

De qualquer modo José Pedro Machado Coelho Torres, juiz nomeado para a Devassa de 1789 em Minas Gerais, dele diz o seguinte: "O dr. Cláudio Manoel da Costa era o sujeito em casa de quem se tratou de algumas cousas repeitantes à sublevação, uma das quais foi a respeito da bandeira e algumas determinações do modo de se reger a República: o sócio vigário da vila de S. José é quem declara nas perguntas formalmente"...(Anais da Biblioteca Nacional, 1º vol. pg. 384).

Morte

Assassinato ou suicídio

O ponto mais crítico da biografia do poeta inconfidente vem a ser a suspeita do seu suicídio. Sua morte está cercada de detalhes estranhos. Há mais de duzentos anos que o assunto suscita debates e há argumentos de peso tanto a favor como contra a tese do suicídio. Os partidários da crença de que Cláudio Manuel da Costa tenha se suicidado se baseiam no fato de que ele estava profundamente deprimido na véspera da sua morte.

Isso está estampado no seu próprio depoimento, registrado na Devassa. Além disso, seu padre confessor teria confirmando seu estado depressivo a um frade que trouxe o registro à luz. Os partidários da tese de que Cláudio tenha sido assassinado, contestam tanto a autenticidade do depoimento apensado aos autos da Devassa, quanto a honestidade do registro do frade.

Quem acredita na tese do assassinato se baseia em um argumento principal: o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio. Pelo laudo, o indigitado poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção, amarrados numa prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço e um joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em tais circunstâncias.

O historiador Ivo Porto de Menezes relata que ao organizar antigos documentos relativos à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, em 1957 ou 1958, encontrou no livro de assentos dos integrantes da Irmandade de São Miguel e Almas, a anotação da admissão de Cláudio Manuel e à margem a observação de que havia "sufragado com 30 missas" a alma do falecido, e "pago tudo pela fazenda real". De igual forma procedera a Irmandade de Santo Antônio, que lançou em seu livro: "falecido em julho de 1789. E feitos os sufrágios." Relembra que havia à época proibição de missas pelos suicidas.

Também Jarbas Sertório de Carvalho, em ensaio publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, defende com boa documentação a tese do assassinato.

Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de Barbacena, esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por estar disposto a revelar isso. Mas o fato é que somente a tese do suicídio pôde se lastrear em documentos, ainda que duvidosos quanto a sua honestidade e veracidade, como bem salientam os adeptos da tese de assassinato.

Conclusão

Assim, a própria História continua pendente quanto às verdadeiras circunstâncias da morte de Cláudio Manuel da Costa e isso continua a ser o ponto mais marcante da sua biografia, não obstante estar sua vida plena de passagens notáveis.

Dez dias depois da sua morte, a população de Paris tomava a fortaleza da Bastilha, marcando o início do fim da dinastia dos gloriosos Luíses de França. Começava a tomar corpo então, um projeto político, sonhado pelo próprio Cláudio Manuel da Costa para seu país. Demoraria, no entanto, mais trinta anos para que o Brasil se tornasse liberto de Portugal. Cem anos a mais seriam necessários para a realização da segunda parte do sonho, a implantação do regime republicano no Brasil.

É Patrono da Academia Brasileira de Letras. Glauceste Saturnino (ou Glauceste Satúrnio), pseudônimo do autor, faz parte da transição do Barroco para o Arcadismo. Seus sonetos herdaram a tradição de Camões.

Representações na cultura

Cláudio Manuel da Costa já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Emiliano Queiroz no filme "Tiradentes" (1999), Fernando Torres no filme "Os Inconfidentes" (1972) e na novela "Dez Vidas" (1969) e Carlos Vereza no filme "Aleijadinho - Paixão, Glória e Suplício" (2003).

Obras:

  • Epicediu, consagrado à memória de fr. Gaspar da Encarnação - Coimbra, 1753.
  • Labirinto de amor, poema - Coimbra, 1753.
  • Númerosos harmônicos - Coimbra, 1753.
  • Obras Poéticas - Coimbra, 1768
  • Vila Rica, 1773
  • Soneto
  • Entre o Velho e o Novo Mundo
  • Poesias diversas - Revista Brazileira, Rio de Janeiro, 1895 (post.).
  • Minusculo métrico, romance heróico - Coimbra 1751.

Nota

  1. No Brasil como em Portugal era comum atribuir o gentílico "brasileiro" a uma pessoa nascida na colônia, embora hoje isto possa ser visto como um anacronismo. Durante a época colonial o Brasil era um território português, por esse motivo, os ali nascidos eram súditos e vassalos do rei de Portugal. Somente durante a primeira centúria da época colonial (XVI) o vocábulo “brasileiro” era o nome que se dava aos comerciantes de pau-brasil, sendo por isso, naquela época apenas, o nome de uma profissão. No entanto, desde muito antes da independência do Brasil, em 1822, em virtude do sentimento nativista disseminado o termo “brasileiro” já era utilizado de modo generalizado como adjetivo pátrio dos naturais do Brasil. Do ponto de vista estritamente legal apenas, só é de nacionalidade brasileira (brasileiro) quem ali nasceu depois da independência do Brasil. Mas, em geral, chamar uma pessoa que nasceu no Brasil antes da independência de brasileiro não quer significar que ela era comerciante de pau-brasil e sim que era natural do "Estado do Brasil".

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