segunda-feira, 28 de abril de 2008

CPT - Intertextualidade

Intertextualidade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Grosso modo, pode-se definir a intertextualidade como sendo um "diálogo" entre textos. Esse diálogo pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica na identificação e no reconhecimento de remissões a obras ou a trechos mais ou menos conhecidos. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem dos textos/ contextos em que ela é inserida.

Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento de mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.

O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.

Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura.

Na publicidade, por exemplo, em um dos anúncios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era " Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima". Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci. Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc).

Para ampliar essa discussão, vale trazer um exemplo de intertextualidade na literatura. Às vezes, a superposição de um texto sobre outro pode provocar uma certa atualização ou modernização do primeiro texto. Nota-se isso no livro Mensagem, de Fernando Pessoa, que retoma, por exemplo, com seu poema “O Monstrengo” o episódio do Gigante Adamastor de Os Lusíadas de Camões. Ocorre como que um diálogo entre os dois textos. Em alguns casos, aproxima-se da paródia (canto paralelo), como o poemaMadrigal Melancólico” de Manuel Bandeira, do livro Ritmo Dissoluto, que seguramente serviu de inspiração e assim se refletiu no seguinte poema:

ASSIM COMO BANDEIRA

O que amo em ti
não são esses olhos doces
delicados
nem esse riso de anjo adolescente.

O que amo em ti
não é essa pele acetinada
sempre pronta para a carícia renovada
nem esse seio róseo e atrevido
a desenhar-se sob o tecido.

O que amo em ti
não é essa pressa louca
de viver cada vão momento
nem a falta de memória para a dor.

O que amo em ti
não é apenas essa voz leve
que me envolve e me consome
nem o que deseja todo homem
flor definida e definitiva
a abrir-se como boca ou ferida
nem mesmo essa juventude assim perdida.

O que amo em ti
enigmática e solidária:
É a Vida!
(Geraldo Chacon, Meu Caderno de Poesia, Flâmula, 2004, p.37)


MADRIGAL MELANCÓLICO

O que eu adoro em ti
não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

(...)

O que eu adoro em tua natureza,
não é o profundo instinto maternal
em teu flanco aberto como uma ferida.
nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida. (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, José Olympio, 1980, p.83)

Pode-se destacar oito tipos de intertextualidade:

Epígrafe - constitui uma escrita introdutória a outra. Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas. Paráfrase - é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte. Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente.Ela perverte o texto anterior, visando à ironia,ou à crítica. Pastiche - uma recorrência a um gênero. Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque emplica em recrição de um texto. Referência e alusão

Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Intertextualidade"

Categoria: Literatura

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A intertextualidade
e o ensino de Língua Portuguesa

Renata da Silva de Barcellos
(C.E.Ten. Otavio Pinheiro)

O texto e o ensino de Língua Portuguesa

Primeiramente, faz-se necessário dizer que, neste trabalho, texto é entendido comotoda unidade de produção de linguagem situada, acabada e auto-suficiente do ponto de vista da ação ou da comunicação” (Bronckart, 1999). O texto é o elemento básico com que devemos trabalhar no processo de ensino de qualquer disciplina. É através do texto que o usuário da língua desenvolve a sua capacidade de organizar o pensamento/conhecimento e de transmitir idéias, informações, opiniões em situações comunicativas.

Pode-se dizer assim que, sobretudo, no ensino de língua portuguesa, os constantes desafios encontrados pelo professor são: compreender o texto como um produto histórico-social, relacioná-lo a outros textos lidos e/ou ouvidos e admitir a multiplicidade de leituras por ele suscitadas.

Tal entendimento do que seja texto evidencia a necessidade de trabalhar, em sala de aula, com vários gêneros textuais, usados em diferentes situações e com objetivos diversos: construir e desconstruir esses textos, ressaltando os efeitos provocados pelas alterações, criar intertextos, verificar o gênero textual e modificá-lo etc. Portanto, para realizar esse tipo de trabalho com a língua portuguesa, o professor precisa ter consciência da diferença entre saber usar uma língua, adequando-a convenientemente a contextos e saber analisá-la, tendo conhecimento de conceitos sobre sua estrutura e funcionamento e a nomenclatura gramatical pertinente.

Atualmente, a escola enfatiza o trabalho da leitura e da produção de textos, tentando equilibrá-lo com a análise das estruturas da língua e com seu uso. Dessa forma, através da interação com vários gêneros textuais e o intertexto presente neles, o professor pode investigar a experiência anterior do aluno enquanto leitor de palavras e de mundo e seguir pistas deixadas pelo autor no texto para considerar também o implícito, inferindo, assim as intenções do autor.

Então, o aluno, por sua vez, desempenha ora o papel de leitor, ora o papel de produtor de textos, ou seja, aquele que pode ser entendido pelos textos que produz e que o constituem como ser humano.

A intertextualidade

O processo ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa deve basear-se assim em propostas interativas a fim de promover o desenvolvimento do indivíduo numa dimensão integral. Portanto, nessa perspectiva, o trabalho do professor é, dentre outros, desenvolver no aluno a capacidade de identificar um intertexto. . A intertextualidade é “um fenômeno constitutivo da produção do sentido e pode-se dar entre textos expressos por diferentes linguagens” (Silva, 2002). O professor deve, então, investir na idéia de que todo texto é o resultado de outros textos. Isso significa dizer que não sãopuros”, pois a palavra é dialógica. Quando se diz algo num texto, é dito em resposta a outro algo que foi dito em outros textos. Dessa forma, um texto é sempre oriundo de outros textos orais ou escritos. Por isso, é imprescindível que o professor leve o aluno a perceber isso.

Assim, a utilização da intertextualidade deve servir para o professor não conscientizar os alunos quanto à existência desse recurso como também utilizar um modo mais criativo de verificar a capacidade dos alunos de relacionarem textos.

A intertextualidade ocorre em diversas áreas do conhecimento. Eis abaixo algumas delas:

A literatura: por exemplo, entre Casimiro de Abreu “Meus oito anos” e Oswald de Andrade “Meus oito anos”. Aquele foi escrito no século XIX e este foi escrito no século XX. Portanto, o 2 texto cita o 1, estabelecendo com ele uma relação intertextual.

Meus oito anos Oh! Que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor, que sonhos, que flores Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras Debaixo dos laranjas! Casimiro de Abreu

Meus oito anos Oh! Que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Naquele quintal de terra Da rua São Antônio Debaixo da bananeira Sem nenhum laranjais! Oswald Andrade

A pintura: o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos depois do quadro. Na foto, ela recria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e o escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio. Aquela, explícita e intencionalmente, cita este ao manter quase todos os elementos do quadro original.

O jornalismo: - a publicidade - um dos anúncios do Bom Bril em que o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Da Vinci e cujo enunciado-slogan é “Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-primaEsse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci).

Quanto à intertextualidade na publicidade, pode-se dizer que ela assume a função não de persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc). Assim, quando há a utilização deste recurso, boa parte do efeito de uma propaganda ou do título de uma reportagem é proveniente da referência feita a textos pré-existentes. Esses textos ora são retomados de forma direta, ora de forma indireta, levando o destinatário a reconhecer no enunciado o texto citado. (Portanto, segundo Almeida, pode tratar-se da citação tanto de um enunciado cuja autoria é reconhecida (Os documentos são “imexíveis) usando o neologismo criado pelo ministro do trabalho Magri “imexível”); quanto de um enunciado anônimo pertencente ao patrimônio social (um político) diz: “Se Lincoln fosse vivo, ele estaria rolando no túmulo”, fazendo alusão a este enunciadoFulano deve estar rolando no túmulocujo valor é de descontentamento.

Intertextualidade
uma proposta de classificação

Apresentaremos a seguir uma proposta de classificação de intertextos com base no corpus selecionado a fim de trabalhá-lo em sala de aula de Português e de Literatura.

Clichê: é o enunciado que se transformou em uma unidade lingüística estereotipada por ser muito proferido pelas pessoas. Num jornal sobre esportes foi criada uma charge com o enunciado: “Por trás de todo grande timeum grande treinador”. Tal enunciado remete a outro pertencente ao patrimônio socialPor trás de todo grande homem há uma grande mulher”. O enunciado do jornal, na época, pretendia elogiar a conduta do treinador pelo fato do time Vasco ter ganhado o campeonato.

Outro exemplo destacado foi o da publicidade do Sesi a respeito de um concurso de empresas sobre a qualidade no trabalho. O slogan da publicidade era: “Se o trabalho dignifica o homem, o trabalho em equipe o torna um vencedor”. Observa-se que a partir de um clichê “O trabalho dignifica o homem”, utilizado numa estrutura com valor condicional “Se o trabalho...”, ressalta-se em seguida a importância do trabalho em equipe “...o trabalho em equipe o torna um vencedor”.

Proverbial: é um enunciado popular que expressa de forma sucinta uma mensagem. O título de uma reportagem sobre funcionários e ações trabalhistas: “Depois do suor, o desamparo que remete ao provérbioDepois da tempestade vem a bonança”. Sendo que ao contrário desse (depois dos fatos negativos vem o positivo), o título da reportagem sugere que depois de todo esforçosuor”, os funcionários não obtiveram o que almejavam: o reconhecimento. Foram vítimas do desemprego “desamparo”.

Palavrão: é o enunciado que apresenta uma palavra grosseira ou obscena. O jornalista Agamenon, responsável por uma matéria do Segundo Caderno do jornal O Dia, cuja característica é o humor, nomeou uma de suas matérias de Cuba se Fidel. No mesmo, observa-se a alusão ao palavrão “se foder” e um jogo entre este e o nome do presidente de Cuba, Fidel Castro, por causa da semelhança fonética “Fidel e fodeu”.

Bíblico: quando o enunciado menciona uma passagem da Bíblia. O título de uma reportagem sobre o turismo na Ilha GrandeA move turistas nas trilhas da Ilha Grande se referindo à passagem bíblica que diz: “A move montanha”.

Literário: quando o enunciado se refere a verso(s), a passagem (ns) ou a título (s) de obra.

- Exemplo de título de obra: A publicidade da marca Ceramidas usa como slogan o seguinte enunciado: “Dona flor e seus dois produtos, que, por sua vez, se reporta a uma das obras de Jorge Amado intitulada Dona flor e seus dois maridos. Observa-se assim que na publicidade Dona Flor é representada pela marca Ceramidas e os dois produtos pelo xampu e pelo condicionador.

Uma matéria da revista Isto é intitulada: “E o vento levousobre produtos de cabelo é o título de uma obra de Margaret Mitchell. Essa matéria mostra como os produtos mencionados deixam os cabelos leves e soltos.

- Exemplo de verso: O título de uma reportagem: Infinito, mas enquanto durou” se referindo ao verso de Vinícius de Moraesque seja infinito enquanto dure” que, por sua vez, faz alusão ao pensamento de Sofocleto: “O amor é eterno enquanto dura”.

Musical: quando a letra de uma música se reporta a outra letra existente. Num trecho do rap Sem saúde de Gabriel O Pensador, o compositor diz: “... me cansei de lero-lero / dá licença mas eu vou sair do sério...” mencionando uma das músicas de Rita Lee.

Considerações Finais

O objeto de estudo deste trabalho, a intertextualidade, serviu para ilustrar a importância do conhecimento de mundo e como esse fator interfere no nível de compreensão do texto. Pois, embora o aluno-leitor não identifique o intertexto, vai entendê-lo. Mas ao relacionar um texto com outro, compreenderá o texto lido na sua profundidade e por conseqüência será capaz de refletir sobre o recurso adotado pelo autor para quando for compor textos. Dessa forma, na aula de Português, por exemplo, o aluno compreenderá que a intertextualidade é um das estratégias utilizadas para a construção de um texto. No caso específico da publicidade, quando utiliza a intertextualidade é uma forma diferente de persuasão cuja intenção é de levar o leitor a consumir um produto e de também difundir a cultura.

Enfim, a intertextualidade deve fazer parte do planejamento do professor de Português e de Literatura. Pois, afinal, é a cultura do país e do mundo que estão em movimento. Cabe a ele, então, levar o leitor a reconhecer intertextos e a redigir utilizando também esse recurso.

ATIVIDADADE

20. “No meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fadigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do cainho tinha uma pedra.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética.

Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Ed, 1983.

Proposta de Produção de Texto

1- A partir do poema de Carlos Drummond Andrade, construa uma paródia partindo do caos que se encontra a mentalidade brasileira com o foco no sensacionalismo, imposto pela mídia, diante do fato decorrente pela morte da menina Isabella, que foi morta pelo pai e a madrasta. Não se esqueça que a paródia tende a ser critica.

2-Em seguida produza um pastiche em cima do mesmo poema com o tema livre.

3- Depois faça uma analise crítica de suas produções destacando as semelhanças e/ou diferenças entre elas. Para tanto, se paute no conteúdo exposto pelo professor em sala.

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