segunda-feira, 10 de março de 2008

CPT - Aula 4 - Fábula

FÁBULA

POR QUE INTRODUZIR VALORES HUMANOS ATRAVÉS DAS FÁBULAS?

“A história é capaz de transformar o abstrato em concreto”

Os valores humanos são uma energia que pulsa em todos os seres humanos. Estão vivos e presentes no pensamento humano a todo o momento, determinam o comportamento e orientam a inteligência e a criatividade.

Eles integram o conhecimento, a família, a escola e a vida em sociedade. Vinculam o ensinamento ministrado na escola às circunstância da vida, construindo uma consciência da ética e da estética do bem.

As narrativas oferecem um manancial riquíssimo para aplacar nossa sede de encontrar o ponto de coexistência das tensões positivas e negativas da personalidade.

Segundo Vânia Dohme, em seu livro Técnicas de Contar Historias, algumas indagações podem ser feitas sobre ‘quais valores gostaríamos de passar por meio de um processo educacional’, pois são eles que regem a conduta humana.


Quais os valores que me impedem?
O que é importante para mim como educador?
Quais são adequados a uma criança?
Quais deles eu gostaria de poder ajudar a construir?


Muitos são os valores que podem ser trabalhados através das narrativas: amor, caridade, prudência, justiça, honestidade, paciência, respeito, responsabilidade, fortaleza e temperança...

O apóstolo Paulo nos exorta a ocupar-nos com tudo o que é verdadeiro, honesto, nobre, justo, santo, puro, amável, honroso, virtuoso e assim o Deus da paz será conosco.

Eis aí o porquê de trabalharmos valores através das narrativas, especificamente fábulas por serem curtas e bastante diretas para um mundo corrido como o nosso e para caminharmos rumo à nossa humanidade e espiritualidade.

Resta-nos mergulhar no mundo das fábulas para retirarmos delas subsídios virtuosos, resgatando valores para que a educação seja realmente a arte de conhecer, cuidar e criar.


CONHECENDO UM POUCO MAIS SOBRE AS FÁBULAS

O que é e de onde vem a fábula?

FÁBULA = Pequena narrativa em que se aproveita a ficção alegórica para sugerir uma verdade ou reflexão de ordem moral, com intervenção de pessoa, animais e até entidades inanimadas. (Moderno Dicionário de L. Portuguesa – Michaelis)


Características das Fábulas

A fábula trata de certas atitudes humanas, como a disputa entre fortes e fracos, a esperteza, a ganância, a gratidão, o ser bondoso, o não ser tolo.

Muitas vezes, no finalzinho das fábulas aparece uma frase destacada chamada de MORAL DA HISTÓRIA, com provérbio ou não; outras vezes essa moral está implícita.

Não há necessidade de descrever com muitos detalhes os personagens, pois o que representam nas fábulas (qualidades, defeitos) já é bastante conhecido.

Tempo indeterminado na história.

É breve, pois a história é só um exemplo para o ensinamento ou o conselho que o autor quer transmitir.

Conflito entre querer / poder.

O título não deve antecipar o assunto, pois não sobraria quase nada para contar.

A resolução do problema deve combinar com a sua intenção ao contar a fábula e com a moral da história.


DE ONDE VEM A FÁBULA? A FÁBULA, COMEÇO DE TUDO.


As fábulas são tão antigas quanto as conversas dos homens, às vezes, nem sabemos quem as criou, pois através da oralidade eram carregadas como vento de um lado para outro, já que a própria palavra provém do latim FABULA = contar.

No século VIII a.C. já se tinha notícias dessas histórias, sendo que as fábulas muito antigas do Oriente foram difundidas na Grécia, há 2600 anos, por um escravo chamado Esopo. Apesar de gago, corcunda, feio e miúdo, como diziam alguns, era inteligente, esperto e de muito bom senso; por esse motivo, conquistou a liberdade e viajou por muitas terras dando conselhos através das fábulas.

Esopo foi condenado à morte e jogado do alto de um abismo. O motivo foi a vingança do povo de Delfos, mas as suas 600 fábulas continuaram a ser contadas, escritas e reescritas por outros fabulistas. Fedro é o primeiro escritor romano a compor uma coletânea de fábulas, tendo sido imitado e refundido várias vezes.

O escritor francês Jean de La Fountaine (século XVII – 1601 – 1700) usava fábula para denunciar as misérias e as injustiças de sua época em versos e em prosa.

A partir dessa época, muitas histórias escritas inicialmente para adultos já começaram a ser adaptadas para crianças, retirando delas os elementos violentos e os aspectos nocivos à educação. Mas a fábula moderna preserva todo o vigor que vem apresentando desde os tempos antigos.

No Brasil, temos o grande fabulista, Lobato. Além de recontar as fábulas de Esopo e La Fountaine, cria suas próprias fábulas com a turma do sítio, como mostra o seu livro “Fábulas”.
O escritor brasileiro usou fábulas para criticar e denunciar as injustiças, tiranias, mostrando às crianças a vida como ela é. Em suas fábulas, alerta que o melhor é esperto (inteligente) porque o forte sempre vence e Visconde afirma que o único meio de derrotar a força é a astúcia.

Até hoje esse gênero narrativo existe e por ser curto, tem o poder de prender a atenção, de entreter e deixar uma mensagem, um ensinamento.

Millôr Fernandes, com seu humor e ironia, cria e recria fábulas refletindo valores e antivalores, satirizando a nossa realidade sócio–política–econômica em seus livros, “Fábulas fabulosas”, “Novas fábulas fabulosas” e “Eros uma vês”.

Outros autores também vêm se dedicando ao gênero, como Carlos Eduardo Novaes, que, em “A história de Cândido Urbano Urubu” retrata a realidade social brasileira; Augusto Monterroso com “A ovelha negra e outras fábulas” e até mesmo Ulisses Tavares com “Fábulas do futuro”. Versões de uma mesma fábula.


A Cigarra e as Formigas

No inverno, as formigas estavam fazendo secar o grão molhado, quando uma cigarra faminta lhes pediu algo para comer. As formigas lhe disseram: “Por que, no verão, não reservaste também o teu alimento?” A cigarra respondeu: “Não tinha tempo, pois cantava melodiosamente”. E as formigas, rindo, disseram: “Pois bem, se cantavas no verão, dança agora no inverno.

MORAL: A fábula mostra que não se deve negligenciar em nenhum trabalho, para evitar tristeza e perigos.

Esopo: fábulas completas. Tradução de Neide Smolka. São Paulo, Moderna, 1994


A Cigarra e a Formiga

Tendo a cigarra cantado todo o estio, achou-se em apuros com a entrada do inverno. Não possuía nem um pedacinho de mosca, nem um vermezinho para se alimentar. Desesperada, foi bater à porta da formiga sua vizinha. Pediu que lhe emprestasse algum grão, a fim de poder subsistir até à chegada do tempo melhor.

- Eu pagarei com juros, disse ela, antes de agosto. Palavra de honra.

A formiga não gosta de dar emprestado, nem é prestimosa: é esse o seu defeito.

- Que fazias no tempo de calor? - perguntou-lhe.

- Eu cantava noite e dia a todos que apareciam. - respondeu a cigarra.

- Cantavas no verão? Que bela vida! Pois bem, dança agora.

MORAL: Muitos são contra a formiga por ter procedido assim. Mas o Sr. La Fountaine certamente explicaria que esse seu defeito é pequeno em face das virtudes, pois é trabalhadeira, diligente e precavida. Já o não foi a cigarra, que nada fez garantir os dias futuros. E lançou mão da mais simples das soluções: pedir emprestado. A lição de La Fountaine consiste em que devemos cuidar do dia de amanhã, e não contar com empréstimo para cobrir o que não produzimos. Que cante a cigarra, mas que trabalhe! Essa é a lição. Fábulas de La Fountaine – Tomo I


PERSONAGENS DAS FÁBULAS


A grande maioria da fábulas têm animais como personagens, mas há fábulas em que as comparações são feitas entre seres humanos e objetos ou plantas.

Normalmente, as fábulas terminam com uma LIÇÃO DE MORAL. Sua função social é preservar a MORAL dos povos.


Observe a presença marcante dos animais na Fábula de La Fontaine.


A rã e o boi

Uma rã viu um boi e sentiu inveja de seu

belo porte. Ela , que no total era menor do que um ovo, começou a se esticar e a inchar, matirizando-se para ficar do tamanho do grande animal. E ia perguntando a uma outra rã:

- Olhe bem, minha irmã, e diga: já chegou? Já estou igual ao boi?

- Que nada!

- E agora, consegui?

- De jeito nenhum!

- E agora? Fiquei como ele?

- Nem chegou perto!

E assim o bichinho foi inchando... inchando...até que estourou.

O mundo está cheio de pessoas tão insensatas como a rã: todo burguês planeja construir um palácio, qualquer principezinho tem embaixadores, o marquês que ter pajens como o rei.

O apólogo é composto de duas partes, das quais uma pode chamar-se o corpo, a outra a alma. O corpo é a fábula; a alma é a moralidade. Aristóteles só admite na fábula os animais; ele excluiu o homem e as plantas. Esta regra é menos de necessidade que de conveniência, porque nem Esopo, nem Fedro, e nenhum dos fabulistas a cumpriu. Quando à moralidade, ao contrário, nenhum deles a dispensou.

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